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Você sabe o que é Karoshi?


Em 25 de julho de 2013, Miwa Sado foi encontrada morta em seu apartamento, em Tóquio, segurando seu celular. A repórter da emissora nacional NHK do Japão morreu de insuficiência cardíaca congestiva, o que significa que seu coração ficou tão fraco que não conseguiu bombear sangue suficiente para seu corpo.

Sado registrou cerca de 160 horas extras no trabalho no mês de sua morte, segundo o jornal japonês Asahi. Sua morte foi oficialmente designada como "karoshi", termo japonês que significa "morte por excesso de trabalho". Ela tinha 31 anos.

Ao andar pelo Japão, é comum ver trabalhadores dormindo em estações de trem, nos transportes públicos e até mesmo nas ruas. Além disso, os famosos “hotel-cápsula”, pequenos cubículos que abrigam apenas uma pessoa por noite, tem como uma de suas principais funções hospedar trabalhadores que, por ficarem muito tempo no trabalho, perderam o último trem para casa. Tudo isso demonstra um problema grave que a população do país tem sofrido: a exigência de jornadas de trabalho exaustivas.

Mas, culturalmente, de onde surgiu o Karoshi?

Sabemos que o final da Segunda Guerra Mundial deixou a economia japonesa muito abalada. Diante disso, o Primeiro Ministro Shigeru Yoshida, querendo mudar a situação e tornar o Japão uma das primeiras economias do mundo, fez o esforço de realizar um pacto entre grandes empresas e trabalhadores: as empresas se comprometeram em prover um acordo de trabalho para a vida toda, enquanto os trabalhadores pagavam com lealdade ao local de trabalho. Por causa desses esforços bem sucedidos, hoje o Japão tem a terceira economia mais desenvolvida do mundo.

O comprometimento dos trabalhadores com seus chefes era tamanho que começaram a colocar a própria saúde em cheque. Apenas dez anos depois da Reforma de Yoshida, o Japão começou a reportar casos de “morte súbita ocupacional”, registrando casos de trabalhadores que morreram de ataques do coração e derrames relacionados à privação de sono e exaustão causada pelo trabalho.

O problema se tornou tão generalizado que, hoje, a família da vítima de karoshi recebe uma compensação do governo de cerca de US$ 20 mil por ano, havendo possibilidade, ainda, de pagamento de indenização pela empresa em valor que pode chegar a US$ 1,6 milhões. Para tal, a vítima precisa ter trabalhado mais de 100 horas extras no mês anterior à sua morte ou 80 horas extras por dois meses consecutivos.

Em 2014, quando a lei que previu a indenização foi implantada, notava-se cerca de 200 casos por ano. Já em 2015, segundo relatório do Ministério do Trabalho do Japão, os pedidos de indenização chegaram ao número recorde de 2.310. No entanto, o Conselho Nacional de Defesa para Vítimas de Karoshi alega que os números podem chegar a 10 mil por ano, aproximando-se do número de pessoas mortas no trânsito anualmente no país.

O governo japonês também lançou as "sextas premium", estimulando as empresas a permitir que seus funcionários saiam mais cedo - às 15h - na última sexta-feira do mês.

Em algumas empresas do país, buscando reduzir o problema e tornar os empregados mais eficientes e produtivos, recorreu-se à ideia de apagar as luzes às 19h, para forçar os funcionários a ir embora na hora certa.

Apesar disso, não podemos dizer que os problemas relacionados à exaustão no trabalho são exclusivos da cultura japonesa. Muito pelo contrário, quando observamos o cotidiano brasileiro, encontramos exemplos análogos de trabalhadores que se submetem à jornadas exaustivas com medo de perder seus trabalhos.

Contextualizando com o que vivemos, podemos dar o exemplo dos caminhoneiros, profissão que sofre muita pressão para realização de entregas no cronograma exigido pela empresa, em um país cuja principal forma de transporte de mercadorias é rodoviária, ou dos cortadores de cana, sujeitos à jornadas verdadeiramente exaustivas para conseguir seu pagamento.

Em reflexão, devemos nos perguntar sobre que tipo de sistema nós queremos. A humanidade estaria disposta a apoiar um modelo que considera o trabalhador descartável? Estamos dispostos a sacrificar nossa própria saúde em uma busca desenfreada por lucro?

Saiba mais sobre o assunto

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