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Após ser resgatado de trabalho escravo, jovem entra na universidade

A vida de Rafael Ferreira da Silva renderia um filme. Aos 12 anos de idade, ainda um menino franzino, teve que começar a trabalhar por causa das dificuldades financeiras do pai. Rafael morava na zona rural de Jauru, em Mato Grosso, e arranjou um serviço em uma fazenda longe de casa. Lá, ele era “bombeiro” – expressão usada para se referir aos que levavam água para os trabalhadores braçais do roçado.

Debaixo de um sol de 40 graus e enfrentando a seca que atinge o estado durante boa parte do ano, o rapaz trabalhava o dia todo para ganhar uma diária de R$ 5 reais. À noite, dormia em um barraco de lona no meio do mato. Se o tempo virasse, tomava chuva e passava frio. Comia o que recebia: arroz, feijão e acompanhamento. A água ele tirava de um córrego onde bois e outros animais também bebiam. Não tinha banheiro. O pior de tudo é que recebera o aviso de que estava endividado e não poderia ir embora da fazenda quando quisesse, tendo que trabalhar mais e mais para pagar o que devia.


Rafael foi resgatado desse cenário de trabalho forçado aos 17 anos, em 2008, durante uma operação realizada pelo Ministério do Trabalho. De 1995 a 2015, o organismo libertou mais de 50 mil trabalhadores de situações análogas à escravidão. A cena dos fiscais chegando à fazenda, segundo o jovem, também parecia a de um filme, e o resgate mudou para sempre o enredo de sua narrativa: "A gente levava uma vida muito simples. Meu pai separou da mãe e eu fiquei com ele, um homem rígido, que não abraçava e beijava o filho. Ele me mandou ir trabalhar porque era preciso, os escravizados são fracos de situação e, por isso, forçados a trabalhar, trabalhar, trabalhar", conta Rafael. Desde criança, todo o dinheiro que conseguia juntar ele usava para comprar material de escola, lápis, borracha e caderno. “Quando eu conseguia o material, ia assistir aula. Depois, o material acabava e eu ficava só no meio do mato mesmo, mas só pensando em voltar para a escola de novo”, lembra.

Após ser resgatado, além de atendimento psicossocial, Rafael passou por cursos de qualificação, como de pintor, operador de máquina agrícola e açougueiro, oferecidos pelo projeto Ação Integrada. Hoje, aos 24 anos, ele é corretor de imóveis e estudante universitário em Várzea Grande, onde reside. “Faço engenharia civil e pago com meu dinheiro”, orgulha-se. Para o rapaz, que atualmente está casado, toda a adversidade que enfrentou serviu para consolidar uma filosofia: “Quem manda no meu destino sou eu”.

Rafael tem certeza de que o filme da sua vida não chegou ao final: “Ainda sou uma criança escrevendo um livro que ainda não terminou”. Rafael é um dos mais de 700 beneficiados pelo projeto Ação Integrada, em Mato Grosso. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) apoia a iniciativa.

Saiba mais sobre o assunto

Clique aqui para conhecer a história de alguns dos pescadores resgatados! 

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